quarta-feira, 23 de março de 2016

Importantes Temas no Evangelho de Marcos



O Reino de Deus

            Vimos logo no início do Evangelho de Marcos que depois que João Batista foi preso, Jesus voltou para a Galileia proclamando a Boa Nova de Deus: "O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo.  Convertam-se e acreditem na Boa Notícia".

            Jesus estava atento aos fatos e descobria neles os sinais da presença do reino.  À medida que Jesus vai agindo, o Reino vai se tornando cada vez mais próximo.  Os atos libertadores de Jesus vão fazendo o reinado de Deus aproximar-se cada vez mais.

            Naquele tempo, todos esperavam o Reino de Deus, mas cada um a seu modo.  Para os fariseus, o Reino só chegaria quando a observância da Lei fosse perfeita.  Para os essênios, quando o país fosse purificado.  Jesus dizia "o Reino já chegou!".  Já estava alí!  Aquilo que todos esperavam, já estava presente no meio do povo, e eles não o sabiam, nem o percebiam.  Jesus o percebeu!  E é exatamente esta presença escondida do Reino no meio do povo, que ele quer anunciar e revelar aos pobres e excluídos da sua terra, lá na Galiléia.

            Jesus quer que todos descubram a Boa Nova do Reino.  Ele ajuda o povo prestando serviço de muitas maneiras: expulsa maus espíritos (Mc 1, 39), cura os doentes e os maltratados (Mc 1, 34), acolhe o marginalizados e confraterniza com eles (Mac 2,15), etc.  Todo este serviço fazia parte da Boa Nova e revelava ao povo a presença do Reino (Mt 11,5).

            Em Jesus, tudo é revelação.  Ele anuncia, chama e convoca.  Atrai, consola e ajuda.  É uma paixão que se revela.  O serviço de Jesus é sinal de seu amor pelo Pai e pelo povo que sofre.  Ele não só anuncia a Boa Nova do Reino.  Ele mesmo é uma amostra, um testemunho vivo do Reino.  Nele aparece aquilo que acontece quando um ser humano deixa Deus reinar, tomar conta de sua vida.  Pelo seu jeito de conviver e de agir, Jesus revelava a vontade e o desejo do Pai para o seu povo.

            O anúncio do Reino começou pequeno como uma semente, mas foi crescendo até tornar-se árvore grande, onde o povo todo procurava um abrigo (Mc 4, 31-32).






O Segredo Messiânico: por que Jesus não se revela?
  
            O texto da transfiguração de Jesus (9, 2-13) que estudamos e meditamos recentemente nos traz uma das atitudes típicas de Jesus no Evangelho de Marcos: “Ao descerem da montanha, Jesus recomendou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos”. Jesus não quer ser reconhecido como o Filho do Homem e o Messias antes de passar pela morte e ressurreição.  Até lá isso é um segredo.  Por que Jesus não se revela? Qual é o objetivo que levou Marcos a insistir tanto no tema do segredo messiânico?

            No tempo de Jesus, a maior parte da população da Palestina vivia em condições miseráveis, sem nenhuma perspectiva de uma vida melhor.  Eles eram marginalizados e explorados pelos romanos e pela elite da Palestina que colaborava com a dominação romana para manter seus privilégios.

            Nesta situação de extrema crise e desespero, o povo espera ansiosamente por um “Messias”, um rei guerreiro e vitorioso, que libertaria miraculosamente Israel do domínio e restauraria a gloriosa hegemonia judaica dos tempos de Davi e Salomão sobre outras nações.  A festa das tendas, cenário da transfiguração (cf. Mc 9,5), era uma celebração nacional de Javé rei e a festa preferida pelo povo para manifestar tal esperança messiânica e triunfalista.

            Nesta expectativa messiânica, Jesus de Nazaré aparece diante do povo com fama de ser um homem poderoso e milagreiro.  Na medida que Jesus fazia os milagres, a expectativa do povo em torno dele aumentava.  Foi nesta febre messiânica que o povo queria consagrar Jesus como seu rei triunfante após a multiplicação dos pães (cf. Jo 6, 14-15).

            A imagem do Messias que nasce da prática de Jesus (cf. Mc 1, 41; 2, 15; 10, 45; 11, 17) é exatamente o contrário da imagem apresentada pelas ideologias messiânicas do seu tempo.  Jesus certamente queria libertar o povo de Israel de todas as suas opressões, mas de outro jeito.  Por isso, Jesus não se apresentou como Messias, mas a partir de sua vida e sua prática foi reconhecido pelos pobres como o enviado de Deus. Ele insiste no messianismo do Servo Sofredor de Javé, anunciado pelo profeta Isaias (Is 53, 1-13).  Sua missão consiste em passar pela paixão-morte-ressurreição, e isso ele dizia abertamente (cf. Mc 32a ).

            O messianismo triunfalista não é parte apenas do passado, ainda hoje ele é moda. No mundo onde grande parte da população vive em condições miseráveis e parte parece ter perdido o sentido de viver, os movimentos messiânicos aumentam cada vez mais o número de seus membros.  Em toda parte há pessoas que rezam, cantam e fazem promessas de diversos tipos, pedindo intervenção imediata de Deus para a solução dos problemas sem nenhum tipo de comprometimento.  Muitas pessoas esquecem da presença de Deus já encarnado neste mundo e nada fazem para melhorar a situação injusta e desumana junto com Ele.




Discípulo e Comunidade de Jesus

                  O Evangelho de Marcos é uma escola para se tornar discípulo e discípula do Senhor, assumindo o seguimento de Jesus e a vida em Comunidade. Nele vemos retratados os desafios e as dificuldades que afetam os discípulos de Jesus e a vida em Comunidade de fé. Mas encontramos, sobretudo, o incentivo e a esperança de quem deseja trilhar o caminho do serviço, da humildade e do amor; o caminho de Deus, que passa pela cruz.
                  É preciso fazer este caminho com o coração cheio de esperança; colocar nossos pés nas pegadas dos discípulos; ter atenção aos lugares, ao ambiente e às pessoas; perceber os sentimentos presentes no coração do povo, dos interlocutores, dos discípulos e do próprio Jesus; no entanto, o mais importante é ter os nossos olhos fixos na pessoa de Jesus que se revela como o Filho de Deus, esperança de vida e salvação para a humanidade e para cada um de nós, em particular.
                  A ação e a mensagem de Jesus se entrelaçam nas tramas da história, nas reações humanas de acolhimento e rejeição, adesão e suspeita, entusiasmo e perplexidade. No entanto, o evangelho de Marcos é o perfeito retrato de cada um de nós e de nossas Comunidades que buscam a face do Senhor e desejam viver a vida de fé em meio às incertezas, inseguranças e instabilidades deste mundo. Os discípulos sentiram as mesmas dificuldades que sentimos. A Comunidade de Marcos passou por desafios semelhantes aos nossos. É preciso se colocar na escola de Jesus, na procura de respondermos sempre e em toda parte: “Quem é Jesus e quem são os seus discípulos?”
                  O evangelho mostra claramente, um entusiasmo inicial empolgante – como todas as pessoas que fazem planos, iniciam uma atividade ou desejam seguir um caminho. Todos se sentem atraídos pela pessoa de Jesus e animados pelos seus “milagres”. Porém, logo começam as contradições e Jesus passa a não corresponder com a idéia que eles faziam do “Messias” esperado. Jesus e sua proposta parecem incomodar e criar dificuldades nos diferentes grupos. Surge a luz escura da cruz e o não-entendimento toma conta do coração deles. Os discípulos terminam cheios de assombro, não compreendendo a pessoa de Jesus e sua missão e com medo. No final, poucas pessoas conseguem ver aquilo que já estava dito no primeiro versículo do evangelho, que Jesus era o Filho de Deus. É gritante a contradição, pois o reconhecimento vem por parte de um cego, Bartimeu (10, 52) e de um pagão, soldado romano (15,39). Apesar disso, na conclusão do evangelho cresce a vitória sobre a morte e aparece como luz irradiante a Boa Notícia (15, 42ss): “Ele vai à vossa frente para a Galiléia” (16,7), lá onde tudo começou. É o convite a refazermos o caminho com Jesus, o caminho da vida nova e da salvação.
                  Assim, o discípulo e a Comunidade de Jesus devem percorrer o caminho do evangelho para estarem com Jesus e compartilharem seu destino e sua missão.


Ausência e Presença de Jesus:  O túmulo vazio

            Como conta o “final original” do Evangelho de Marcos, no primeiro dia da semana, três mulheres levam perfumes com a intenção de ungir o corpo de Jesus dizendo entre si “Quem vai tirar para nós a pedra da entrada do túmulo?”  Tudo parece indicar fragilidade e pequenez.  Elas haviam testemunhado o trágico desfecho da vida de seu Mestre (Mc 15, 40 – 41) e agora estão diante do mistério do túmulo vazio.  Nesta hoja elas receberam o anúncio e o encargo de comunicar aos discípulos que se dirijam à Galiléia.  O susto e o medo destas mulheres refletem a ambigüidade das atitudes diante da mensagem central de todos os Evangelhos – a ressurreição de Jesus.
           
            Marcos 16, 1-8 constitui o final primitivo do Evangelho que relata o anúncio de um jovem às mulheres “Ele ressuscitou! Ele não está aqui” e testemunha a experiência da ressurreição pelo fato de que o túmulo está vazio.  Neste primeiro e mais antigo final do Evangelho não há relato de aparições de Jesus.  O sinal da ressurreição é o túmulo vazio “Vejam o lugar onde o puseram”.  A experiência da ressurreição não é apenas um encontro com um corpo redivivo, mas um convite para encontrar Jesus onde tudo começou:  na Galiléia, no anúncio da Boa-Notícia (Mc 1, 14-15).  A ordem é voltar para a missão.

O túmulo vazio é o sinal de que a ação de Deus em Jesus não termina aí,na morte e no medo.  Jesus de Nazaré ressuscitou e vai estar de novo no lugar onde havia começado sua atividade: na Galiléia.  Os discípulos só poderão encontrar-se denovo com Jesus, se continuarem o projeto por ele iniciado. (Bíblia Pastoral)
                         

            Marcos nos convida a fazer a experiência da ressurreição no retorno à missão. É na comunidade missionária que Jesus se faz presente, vivo, ressuscitado, pela fração do pão pela Palavra.  É na comunidade que escutamos a Palavra viva que nos vem através do testemunho das mulheres que receberam o anúncio “Não fiquem assustadas... Ele ressuscitou!”. 
           
            Crer na ressurreição é voltar para a Galiléia, reunir a comunidade, afugentar o medo e a tristeza, partilhar as experiências na alegria, continuar a missão de Jesus através da vivência em comunhão e da solidariedade com os mais necessitados. Muitas vezes os discípulos deixaram de entender o que Jesus dizia e fazia (Mc 6, 52; 8, 17; 9, 10-32). No retorno a missão tudo irá começar a clarear, os gestos e as palavras de Jesus irão atingir plenamente seus significados.

Hoje somos convidados a fazer o mesmo:  celebrar a páscoa, a ressurreição de Jesus Cristo que se manifesta na missão da Igreja, que leva vida a todas as pessoas.  Também somos chamados a descobrir e ir ao encontro de Jesus nas “Galiléias” de hoje, onde encontramos apelos por “boas-notícias” e fazemos a experiência da páscoa do Senhor, de sua morte e ressurreição.


domingo, 28 de fevereiro de 2016

O Ano Litúrgico

A liturgia é a celebração do Mistério Pascal de Cristo. Em volta deste núcleo fundamental da nossa fé, celebramos o Ano Litúrgico que foi se organizando para manter viva a memória do Ressuscitado na vida de cada pessoa e de cada comunidade.

O Ano Litúrgico “revela todo o mistério de Cristo no decorrer do ano, desde a encarnação e nascimento até a ascensão, ao pentecostes e a  expectativa da feliz esperan-ça da vinda do Senhor” (SC 102). Ele assim nos propõe um caminho espiritual, ou seja, a vivência da graça própria de cada aspecto do mistério de Cristo, presente e operante nas diversas festas e nos diversos tempos litúrgicos (cf. NALC1).
Em síntese, através do Ano Litúrgico, os fiéis fazem a experiência de se configu-rar ao seu Senhor e dele aprenderem a viver “os seus sentimentos” (cf. Fl 2,5).

1.         A Liturgia nos ritmos do tempo

O Ano Litúrgico não apenas recorda as ações de Jesus Cristo, nem somente renova a lembrança de ações passadas, mas sua celebração tem força sacramental e especial eficácia para alimentar a vida cristã . Por isso, o Ano Litúrgico é sacramento e, as-sim, torna-se um caminho pedagógico-espiritual nos ritmos do tempo.
Como a vida, a liturgia segue um ritmo que garante a repetição, característica da ação memorial. Repetindo, a Igreja guarda a sua identidade. Para fazer memória do mis-tério, a liturgia se utiliza de três ritmos diferentes: o ritmo diário, alternando manhã e tarde, dia e noite, luz e trevas; o ritmo semanal, alternando trabalho e descanso, ação e celebra-ção; o ritmo anual, alternando o ciclo das estações e a sucessão dos anos.

1.1 - O ritmo diário

            O anoitecer e o amanhecer são dois momentos que marcam o dia da comu-nidade cristã. A Igreja celebra a memória da páscoa de Jesus na oração da tarde (véspe-ras) e na oração da manhã (laudes).
            Pelo Ofício Divino, o povo de Deus faz memória de Jesus Cristo nas horas do dia, acompanhando o caminho do sol, símbolo de Cristo - daí o nome “Liturgia das Ho-ras”. De tarde, o sol poente evoca o mistério da morte, na esperança da ressurreição. De manhã, o sol nascente evoca o mistério da ressurreição, novo dia para a humanidade. De noite, nas vigílias, principalmente na de sábado à noite, que inicia o domingo, dia da res-surreição, celebramos em espera vigilante o mistério da volta do Senhor. Em algum outro momento do dia ou da noite, rezamos o “Ofício das Leituras”. E, em qualquer hora do dia, celebramos  a Eucaristia, que abrange a totalidade do tempo.
Com hinos, salmos e cânticos bíblicos, com leituras próprias, com preces de louvor e de súpli-ca, celebramos o mistério pascal do Cristo. Como toda a liturgia, o Ofício acompanha o Ano Litúrgico, expressa nosso caminhar pascal, do nascimento à morte e ressurreição, do advento à segunda vinda gloriosa de Cristo.
Como oração do povo de Deus, verdadeira ação litúrgica, o Ofício Divino é excelente escola e referência fundamental para nossa oração individual.  Os ministros ordenados e religiosos assumem publicamente o compromisso de celebrarem a Liturgia das Horas nas principais horas do dia. Os fiéis leigos também são convidados a celebrá-la, individual ou comunitariamente. Podem fazê-lo seguindo o roteiro simples e adaptado proposto pelo Ofício Divino das Comunidades, que conserva a teologia e a estrutura da Liturgia das Horas.
            Incentivem-se também outras formas de oração comunitária da Igreja, por exemplo, Ofícios Breves adaptados, Celebrações da Palavra de Deus, Horas Santas, La-dainhas, Ângelus, Via-Sacra e Rosário comunitário.
            Precisamente falando, “o dia litúrgico se estende da meia-noite à meia-noite. A celebração do domingo e das solenidades começa, porém, com as Vésperas do dia precedente” (NALC 3).

1.2 - O ritmo semanal

            O ritmo semanal é marcado pelo domingo, o dia em que o Senhor se mani-festou ressuscitado (cf. Mc 16,2; Lc 24,1; Mt 28,1; Jo 20,1).
A história do domingo nasce na cruz e na ressurreição de Jesus. No primeiro dia da semana, quando as mulheres foram para embalsamar seu corpo, já não o encontraram mais. Neste dia, ele apareceu vivo a vários dos discípulos, sozinhos, ou reunidos; comeu e bebeu com eles e falou-lhes do Reino de Deus e da missão que tinham que levar adiante (Mt, 28,5-9; Lc 24,13-49; Mc 16,14; Jo 20,11-18; 20,24-29; Ap 1,10). O dia de Pente-costes, vinda do Espírito Santo, também aconteceu no domingo (At 2,1-11). 
            “No primeiro dia de cada semana, que é chamado dia do Senhor ou domin-go, a Igreja, por uma tradição apostólica que tem origem no próprio dia da Ressurreição de Cristo, celebra o mistério pascal. Por isso, o domingo deve ser tido como o principal dia de festa” (NALC 4).
            O domingo, conforme rezamos no Prefácio IX dos domingos do Tempo Co-mum, é o dia em que a família de Deus se reúne para “escutar a Palavra e repartir o Pão consagrado, recordar a ressurreição do Senhor na esperança de ver o dia sem ocaso, quando a humanidade inteira repousará diante do Pai”. 
            João Paulo II, na Carta Apostólica sobre o domingo (Dies Domini), apresenta as cinco características deste dia: Dia do Senhor, Dia de Cristo, Dia da Igreja, Dia do Homem e Dia dos Dias.  O mesmo Papa nos pede, na Carta Apostólica Mane Nobiscum Domine, que demos “uma atenção ainda maior à missa dominical, como celebração na qual a comunidade paroquial se reencontra em coro, vendo comumente participantes também os vários grupos, movimentos, associações nela presentes” (MND 23).
            “Por causa de sua especial importância, o domingo só cede sua celebração às solenidades e festas do Senhor. Os domingos do Advento, da Quaresma e da Páscoa gozam de precedência sobre todas as festas do Senhor e todas as solenidades. As sole-nidades que ocorrem nestes domingos sejam antecipadas para sábado”(NALC 5). 
            O domingo exclui, por sua natureza própria, a fixação definitiva de qualquer outra celebração. São exceções somente as festas da Sagrada Família, do Batismo do Senhor, da Santíssima Trindade, de Jesus Cristo Rei do Universo, a comemoração de todos os fiéis defuntos, e, no Brasil, as solenidades de S. Pedro e S. Paulo, da Assunção de Nossa Senhora e de Todos os Santos.
            Os dias que seguem o domingo, chamados dias de semana ou férias, celebram-se de diversos modos, segundo a importância própria (cf. NALC 16). Para não repe-tir as missas do domingo, é conveniente que, no Tempo Comum e não havendo celebra-ção especial,  se utilizem nesses dias também os formulários das Missas votivas e para diversas circunstâncias.
            

1.3 - O ritmo anual
                         
“Através do ciclo anual a Igreja comemora todo o mistério de Cristo, da encarna-ção ao dia de Pentecostes e à espera da vinda do Senhor” (NALC 17). Este ciclo anual tem um centro, fonte e cume, que é a solenidade da Páscoa. “A solenidade da Páscoa goza no ano litúrgico a mesma culminância do domingo em relação à semana” (NALC 18).
            O ritmo do Ano Litúrgico compreende:

a)        Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor - da Missa vespertina na Ceia do Senhor até as vésperas do domingo da Ressurreição. É o ápice do ano litúrgico porque celebra a Morte e a Ressurreição do Senhor, “quando Cristo realizou a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus pelo seu mistério pascal, quando morrendo destruiu a nossa morte e ressusci-tando renovou a vida” (NALC 18).

b)        Tempo Pascal - os 50 dias entre o domingo da Ressurreição e o do-mingo de Pentecostes. É o tempo da alegria e da exultação, um só dia de festa, “um grande domingo” (cf. NALC 22). São dias de Páscoa e não após a Páscoa. “Os oito primeiros dias do tempo pascal formam a oitava da Páscoa e são cele-brados como solenidades do Senhor” (NALC 24). A festa da Ascensão é cele-brada no Brasil no 7o domingo da Páscoa. A semana seguinte, até Pentecostes, caracteriza-se pela preparação à celebração da vinda do Espírito Santo. Em sintonia com as outras Igrejas cristãs, no Brasil, realizamos nesta semana a “Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos”. Recomendam-se para esta ocasião orações durante a missa, sobretudo na oração dos fiéis, e oportuna-mente a celebração da missa votiva pela unidade da Igreja (cf. Dir. Ecum., n. 22 e 24). 

c)         Tempo da Quaresma - da 4a feira de Cinzas até a Missa da Ceia do Senhor, exclusive. É o tempo para preparar a celebração da Páscoa. “Tanto na liturgia quanto na catequese litúrgica esclareça-se melhor a dupla índole do tempo quaresmal que, principalmente pela lembrança ou preparação do Batis-mo e pela penitência, fazendo os fiéis ouvirem com mais freqüência a palavra de Deus e entregarem-se à oração, os dispõe à celebração do mistério pascal” (SC 109).  

d)        Tempo do Natal - das primeiras vésperas do Natal do Senhor ao do-mingo depois da Epifania ou ao domingo depois do dia 06 de janeiro, inclusive. É a comemoração do nascimento do Senhor, em que celebramos a “troca de dons entre o céu e a terra”, pedindo que possamos “participar da divindade da-quele que uniu ao Pai a nossa humanidade” . Na Epifania, celebramos a mani-festação de Jesus Cristo, Filho de Deus, “luz para iluminar todos os povos no caminho da salvação” .

e)        Tempo do Advento - das primeiras vésperas do domingo que cai no dia 30 de novembro ou no domingo que lhe fica mais próximo, até as primeiras vésperas do Natal do Senhor.  “O tempo do Advento possui dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se co-memora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expec-tativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectati-va” (NALC 39).

f)         Tempo Comum - começa no dia seguinte à celebração da festa do Batismo do Senhor e se estende até a terça-feira antes da Quaresma, inclusive. Recomeça na segunda-feira depois do domingo de Pentecostes e termina antes das Primeiras Vésperas do 1o. domingo do Advento (cf. NALC 44). A tônica dos 33 (ou 34) domingos é dada pela leitura contínua do Evangelho. Cada texto do Evangelho proclamado nos coloca no seguimento de Jesus Cristo, desde o chamamento dos discípulos até os ensinamentos a respeito dos fins dos tem-pos. Neste tempo, temos também as festas do Senhor e a comemoração das testemunhas do mistério pascal (Maria, Apóstolos e Evangelistas, demais San-tos e Santas). 

g)        As Rogações e as Quatro Têmporas - em cada estação do ano, a Igreja dedica um ou vários dias de preces, jejuns e penitência para rogar ao Senhor por diversas necessidades, principalmente pelos frutos da terra e pelo trabalho humano, e render-lhe graças publicamente (cf. NALC 45). Estas celebrações têm origem nas festas de semeadura e nas festas de colheita. Apesar de sua origem agrária, elas não deixam de ter sentido nos tempos atuais, por causa da crescente consciência ecológica do mundo moderno. Conforme decisão da CNBB, na sua XII Assembléia Geral, em 1971, a regulamentação da celebração das Têmporas e Rogações fica a critério dos Conselhos Episcopais Regionais. Para tais celebrações, pode-se escolher as mais adequadas entre as Missas para diversas circunstâncias.


Para refletir e partilhar:
1. O que mais chamou a sua atenção sobre o Ano Litúrgico?  Partilhe.
2. Com a relação entre a natureza, cultura (música etc) e o Ano Litúrgico?
3. Você acha que o Ano Litúrgico ajuda você e a sua comunidade a viver melhor o mistério da vida de Jesus Cristo? Como?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A Liturgia Cristã e seus Tempos, Ritos, Festas, Cantos, Cores e Espaços

Ótimos vídeos sobre liturgia. Nos ajudam a compreender a liturgia cristã católica e sua relação com as nossas celebrações da vida e suas raízes judaicas.

Missa nossa Ceia com o Senhor, produzido pela Paulus e Verbo Filmes com a assessoria da Rede Celebra:


Programa Liturgia na TV, produzido pela Século XX:


Celebração Dominical da Palavra, produzido pela Paulus e Verbo Filmes.


Um canto para cada Tempo Litúrgico, produzido pela Paulus e Verbo Filmes em parceria com a Rede Celebra:






Vejam o que o Catecismo da Igreja Católica (CIC) fala sobre a Liturgia:

A CELEBRAÇÃO
 DO MISTÉRIO CRISTÃO

INTRODUÇÃO
PORQUÊ A LITURGIA?

1066. No Símbolo da Fé, a Igreja confessa o mistério da Santíssima Trindade e o seu «desígnio admirável» (Ef 1, 9) sobre toda a criação: o Pai realiza o «mistério da sua vontade», dando o seu Filho muito amado e o seu Espírito Santo para a salvação do mundo e para a glória do seu nome. Tal é o mistério de Cristo (1), revelado e realizado na história segundo um plano, uma «disposição» sabiamente ordenada, a que São Paulo chama «a economia do mistério» (Ef 3, 9) e a que a tradição patrística chamará «a economia do Verbo encarnado» ou «economia da salvação».

1067. «Esta obra da redenção humana e da glorificação perfeita de Deus, cujo prelúdio foram as magníficas obras divinas operadas no povo do Antigo Testamento, realizou-a Cristo Senhor, principalmente pelo mistério pascal da sua bem-aventurada paixão, Ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão, em que, "morrendo, destruiu a morte e ressuscitando restaurou a vida". Efectivamente, foi do lado de Cristo adormecido na cruz que nasceu "o sacramento admirável de toda a Igreja"» (2). É por isso que, na liturgia, a Igreja celebra principalmente o mistério pascal, pelo qual Cristo realizou a obra da nossa salvação.

1068. É este mistério de Cristo que a Igreja proclama e celebra na sua liturgia, para que os fiéis dele vivam e dele dêem testemunho no mundo.
«A liturgia, com efeito, pela qual, sobretudo no sacrifício eucarístico, "se actua a obra da nossa redenção", contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza daverdadeira Igreja» (3).
QUAL O SIGNIFICADO DA PALAVRA LITURGIA?

1069. Originariamente, a palavra «liturgia» significa «obra pública», «serviço por parte dele em favor do povo». Na tradição cristã, quer dizer que o povo de Deus toma parte na «obra de Deus» (4). Pela liturgia, Cristo, nosso Redentor e Sumo-Sacerdote, continua na sua Igreja, com ela e por ela, a obra da nossa redenção.

1070. No Novo Testamento, a palavra «liturgia» é empregada para designar, não somente a celebração do culto divino mas também o anúncio do Evangelho (6) e a caridade em acto (7). Em todas estas situações, trata-se do serviço de Deus e dos homens. Na celebração litúrgica, a Igreja é serva, à imagem do seu Senhor, o único « Liturgo» (8), participando no seu sacerdócio (culto) profético (anúncio) e real (serviço da caridade):
«Com razão se considera a liturgia como o exercício da função sacerdotal de Jesus Cristo. Nela, mediante sinais sensíveis e no modo próprio de cada qual, significa-se e realiza-se a santificação dos homens e é exercido o culto público integral pelo corpo Místico de Jesus Cristo, isto é, pela cabeça e pelos membros. Portanto, qualquer celebração litúrgica, enquanto obra de Cristo Sacerdote e do seu corpo que é a Igreja, é acção sagrada por excelência e nenhuma outra acção da Igreja a iguala em eficácia com o mesmo título e no mesmo grau» (9).
A LITURGIA COMO FONTE DE VIDA

1071. Obra de Cristo, a Liturgia é também uma acção da sua Igreja. Ela realiza e manifesta a Igreja como sinal visível da comunhão de Deus e dos homens por Cristo; empenha os fiéis na vida nova da comunidade, e implica uma participação «consciente, activa e frutuosa» de todos (10).

1072. «A liturgia não esgota toda a acção da Igreja» (11). Deve ser precedida pela evangelização, pela fé e pela conversão, e só então pode produzir os seus frutos na vida dos fiéis: a vida nova segundo o Espírito, o empenhamento na missão da Igreja e o serviço da sua unidade.

ORAÇÃO E LITURGIA

1073. A liturgia é também participação na oração de Cristo, dirigida ao Pai no Espírito Santo. Nela, toda a oração cristã encontra a sua fonte e o seu termo. Pela liturgia, o homem interior lança raízes e alicerça-se no «grande amor com que o Pai nos amou» (Ef 2, 4), em seu Filho bem-amado. É a mesma «maravilha de Deus» que é vivida e interiorizada por toda a oração, «em todo o tempo, no Espírito» (Ef 6, 18).

CATEQUESE E LITURGIA

1074. «A liturgia é simultaneamente o cume para o qual se encaminha a acção da Igreja e a fonte de onde dimana toda a sua força» (13). É, portanto, o lugar privilegiado da catequese do Povo de Deus. «A catequese está intrinsecamente ligada a toda a acção litúrgica e sacramental, pois é nos sacramentos, sobretudo na Eucaristia, que Jesus Cristo age em plenitude, em ordem à transformação dos homens» (14).

1075. A catequese litúrgica visa introduzir no mistério de Cristo (ela é «mistagogia»), partindo do visível para o invisível, do significante para o significado, dos «sacramentos» para os «mistérios». Tal catequese compete aos catecismos locais e regionais; o presente catecismo, que deseja colocar-se ao serviço de toda a Igreja na diversidade dos seus ritos e das suas culturas (15) apresentará o que é fundamental e comum a toda a Igreja a respeito da liturgia, enquanto mistério e enquanto celebração (Primeira Secção), e depois, dos sete sacramentos e sacramentais (Segunda Secção).

Fonte: Vaticano

1. Cf. Ef 3, 4.
2. II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum Concilium, 5: AAS 56 (1964) 99. 
3. II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum Concilium, 2: AAS 56 (1964) 97-98. 
4. Cf. Jo 17, 4 
5. Cf. Act 13, 2: Lc 1, 23.
6. Cf. Rm 15, 16; Fl 2, 14-17.30.
7. Cf. Rm 15, 27; 2 Cor 9, 12; Fl 2, 25. 
8. Cf. Heb 8, 2.6.
9. II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum Concilium, 7: AAS 56 (1964) 101.
10. II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum Concilium, 11: AAS 56 (1964) 103.
11. II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum Concilium, 9: AAS 56 (1964) 101.
12. Cf. Ef 3, 16-17.
13.  II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum Concilium, 10: AAS 56 (1964) 102.
14. João Paulo II, Ex. Ap. Catechesi tradendae, 23: AAS 71 (1979) 1296.
15. II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum Concilium, 3-4: AAS 56 (1964) 98.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Instruções (leis), ritual e santidade

Na bíblia, o livro do Êxodo relata as instruções dadas por Javé a respeito da construção do tabernáculo, altar dos holocaustos, artigos e vestes sagradas, assim como a maneira de consagrar Aarão e seu filhos e os objetos a serem usados no culto (Ex 25-31).  Conta também, como os israelitas executaram com fidelidade essas instruções dadas por Javé (Ex 35-40).

Já no início de Levítico encontramos as instruções sobre sacrifícios e tributos que Javé deu a Moisés (Lv 1-7) seguidas pelo relato da consagração dos sacerdotes (Lv 8-10) conforme o Senhor havia instruído em Êxodo.

As ilustrações abaixo nos ajudam a compreender melhor essas instruções, representando o tabernáculo, o altar, as vestes sagradas e outros artigos usados no culto a Javé.


Vista do tabernáculo criado por Gabriel L. Fink (Wikipedia)

Modelo do tabernáculo em Timna Valley Park, Israel

O Tabernáculo, Acampamento, & - Domínio Público, EUA (Wikipedia)

From "The Old Testament - A Historical and Literary Introduction...", pg. 129, by Michael D. Coogan
Sacerdotes Israelitas e peças do tabernáculo - Domínio Público, EUA (Wikipedia)


Estudiosos da bíblia identificam Levítico 17-26, chamado "Código de Santidade", como uma fonte separada porque nela se concentram palavras que têm raiz na palavra hebraica qodesh ("santidade"), traduzidas como "santo", "sagrado", "consagrado", "dedicado" etc.

O primeiro sentido da palavra qodesh é separação. O santo é aquilo que é separado do profano, do comum e do impuro. Por exemplo, Israel é santo porque foi separado por Javé das outras nações. "Sejam santos para mim, porque eu, Javé, sou santo. Eu separei vocês dos povos, para que vocês pertençam a mim" (Lv 20,26).

Vários graus de separação podem ser categorizados de acordo com pessoas, espaços e tempos. A figura abaixo retrata esses graus por uma series de círculos concêntricos: 

From "The Old Testament - A Historical and Literary Introduction...", pg. 147, by Michael D. Coogan
- minha trad. para o português



O conceito de santidade é central no "Código de Santidade" e está fundamentado no chamado de Javé que disse a Moisés: "Diga a toda a comunidade dos filhos de Israel: 'Sejam santos, porque eu, Javé, o Deus de vocês, sou santo" (Lv 19,2). Na bíblia, a santidade de Deus consiste em sua alteridade, sua separação de tudo que é criado. Ao mesmo tempo, a santidade de Javé é encontrada no seu amor. Por isso Javé ordena no Código de Santidade o amor ao próximo e ao estrangeiro:
Ame seu próximo como a si mesmo. Eu sou Javé. (Lv 19,18b)
E se alguém migrar até vocês, e na terra de vocês estiver como migrante, não o oprimam. O migrante será para vocês um concidadão. Você o amará como a si mesmo, porque vocês foram migrantes na terra do Egito. Eu sou Javé, o Deus de vocês. (Lv 19,33-34)
As instruções (leis) e rituais dadas por Javé aos israelitas servem para fazê-los santos como Javé é santo. Vivendo essas instruções o povo incorpora na vida, na sua relação como o próximo, a aliança que o Senhor fez com ele. Assim como Javé é o totalmente Outro que se compadece do povo e age para libertá-lo, os israelitas, separados por Javé, devem agir com todos que são oprimidos. 

Finalmente, esta última ilustração é do templo construído pelo rei Salomão, narrado em 1Reis 6-7:




Que acontece no mundo em que vivemos?

Para não esquecer o que estudamos em Gênesis e o mandato de Deus para que cuidemos da Terra (cf. Gn 1,26-31), nossa casa comum:



"Crentes e não crentes concordamos que a terra é herança comum, cujos frutos devem beneficiar a todos.

Contudo, que acontece no mundo em que vivemos?

A relação entre a pobreza e a fragilidade do planeta requer outro modo de lidar com a economia e o progresso, concebendo um novo estilo de vida.

Porque precisamos de uma mudança que nos una a todos.

Libertar-nos da escravidão do consumismo.

Este mês, faço-te um pedido especial:

Que cuidemos da criação, recebida como um dom que é preciso cultivar e proteger para as gerações futuras.

Cuidar da casa comum."
Papa Francisco

domingo, 14 de fevereiro de 2016

O Povo Brasileiro - por Darcy Ribeiro

Em "O Povo Brasileiro", o antropólogo Darcy Ribeiro nos conduz pelos caminhos da nossa formação como povo e nação.

Afinal, quem são os brasileiros? Que matrizes nos alimentaram? Que traços nos distinguem?

O documentário é uma recriação da narrativa de Darcy Ribeiro em linguagem televisiva;
a onde discute a formação dos brasileiros, sua origem mestiça e a singularidade do sincretismo cultural que dela resultou.

Com imagens captadas em todo o Brasil, material de arquivo raro, depoimentos de Antonio Cândido, Luis Melodia e Antonio Risério, entre outros, e a participação especial de Chico Buarque e Tom Zé, discutem nossas origens, nossos percursos históricos, nossos temas e problemas, nossas perspectivas de futuro.


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